quinta-feira, novembro 24, 2005

A estante

Empurrou a cadeira até a estante, subiu, ficou na ponta dos pés. Não, ainda não alcançava. Resolveu subir na própria estante. Começou a escalar as prateleiras, andar por andar, evitando os bibelôs e porta-retratos que ficavam na frente dos livros. Ela suba mais e mais alto e suas mãos alcançaram o andar que ela buscava, o livro estava lá, mas subir era tão fácil e ela continuou subindo.

"Estranho" pensou, "a estante parecia menor vista do chão." Mas então ela se deu conta de que esse pensamento era falso: ela nunca enxergou com clareza o final da estante. E já que estava mesmo subindo -- e que subir era tão fácil -- decidiu chegar ao final. Pensou que tinha que haver um final, mas já estava subindo há tanto tempo e nem sinal dele.

Ouviu de repente um barulho no corredor e se assustou porque não era permitido subir na estante. Ela deveria ter usado a escada para alcançar o livro. O barulho ficava mais perto e, olhando para baixo, pensou que não estava assim tão alto. Achou que poderia pular. Hesitou com medo de machucar as pernas, mas os passos no corredor ficavam mais e mais próximos e ela se lembrou da punição e saltou.

Na queda via passar a estante e olhando agora para baixo, notou que não conseguia ver o chão. "Mas deve haver um chão" raciocinou "porque eu vim de lá." Então ela se deu conta de que esse pensamento era falso: ela veio do topo da estante. Mas já que estava mesmo caindo -- e cair era tão fácil -- decidiu cair até o chão, se é que havia um.

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