quinta-feira, novembro 22, 2007

Lamed Wufnik

Me chamam de louca, mas eu sei a verdade. Não me acreditam, se riem de mim, mas eu sei a verdade e como um deus tolerante, um pai amoroso, me apiedo deles e continuo. De mim depende a vida deles e eu os deixo viver. Às vezes me canso, já que não sou na verdade deus, e penso em desistir. Penso em não fazer mais, um dia só não fazer, jogo com essa idéia e prolongo atrasos, vendo na tv as conseqüências, as mortes, as guerras, o caos. Conseqüências algumas que se estendem por meses, até anos, não importando o quanto eu faça. Conseqüências essas que não me servem de prova porque eles não me acreditam. São coincidências, dizem-me, não conseqüências, e me falam de outras guerras, outras mortes em dias em que cumpri rigorosamente minha função. Mas com isso tudo, com essa incompreensão, já estou acostumada; vão-se anos desde que me apercebi do meu papel.

Não sou um deus, me perguntam se me julgo deus, não sou deus. Sou só uma mulher a quem foi confiada uma carga grande demais. Confiada por deus, esse sim, um deus verdadeiro. Um deus absurdo que exige atos fúteis, sacrifícios abjetos em troca de sua graça. Um deus com um estranho senso de humor que achou de fazer de uma mulher comum o sustentáculo da humanidade. Um deus hipócrita que dita escrituras falsas, pois nelas não está descrita minha sina.

O que me assusta, o que me fez escrever e fazer publicar esse relato, é o medo do fim. Meu papel não foi sempre claro para mim, passaram-se anos até que me desse conta e mesmo então, mesmo diante das evidências, duvidei. (E por isso quando não me acreditam e me chamam louca, sorrio complacente.) Repito, dias há em que faço o que deve ser feito e na tv mostram massacres e barbáries. Por que então? Será que esse deus brincalhão tenta me fazer duvidar? Ou há outros? Outros como eu, sobre quem repousa o destino dos homens? Outros que repetem quiçá outros atos designados por esse deus incompreensível? É este o meu receio: que existam outros homens escolhidos e que estes homens ignorem sua função, como eu um dia ignorei a minha. Nossas vidas então estão a mercê das vicissitudes de homens que talvez sequer imaginem sua responsabilidade.

E então um incêndio, um acidente de trânsito, um desabamento, e quem será o responsável? Qual dentre os escolhidos terá falhado em sua tarefa? Quem será o causador do fim?

quinta-feira, novembro 08, 2007

É verão?

Quando o inverno passar
e a frio se acabar
e a neve virar água
e a água evaporar.

Quando não for mais novembro
nem o mês que vem depois
(me disseram que é dezembro
ou outubro, um dos dois).

Quando amanhã virar hoje
quando a noite virar dia
e o céu clarear.
Quando o frio virar quente;
a tristeza, alegria;
e for tempo de sambar.

Então eu vou à praia
pra tomar banho de sol.
A minha canga é na areia,
que eu não sou sereia,
só como biscoito globo,
meu bicho é mate leão.