segunda-feira, agosto 29, 2005

O lugar das portas

E então eu e o Coelho estávamos nessa loja com prateleiras altas e todos os produtos estavam na última prateleira - inalcançáveis. Nós passeávamos pela loja e na verdade era só uma sala ampla com algumas caixas - máquinas registradoras - no meio. Então continuamos andando e o Coelho entrou por uma porta. Quando eu entrei atrás dele eu percebi que as portas daqui não levam sempre ao mesmo lugar, mas mudam o destino de acordo com quem entra. Não sei onde o Coelho foi parar, mas eu saí numa sala à direita. Na sala eu vi três portas e uma das portas era uma escada, a da parede direita. Me decidi pela escada e desci. Desci e cheguei em uma sala mais à esquerda que percebi estar no mesmo lugar, no mesmo labirinto de salas que a anterior. Olhando adiante eu vi de novo o Coelho. Mas o Coelho estava bem longe, umas três salas adiante. Entrei pela porta da frente e saí umas cinco salas na frente; passei demais. Nessa sala tinha um escorregador, não um escorregador no meio da sala, mas um que era uma porta. Ficava em uma das paredes e era uma porta. Resolvi descer o escorregador - porque parecia divertido - e saí em uma sala mais à direita e não vi mais o Coelho. Sem saber o que fazer olhei em volta e na sala à esquerda estava a Menina na Lua.

Passei pela porta e com surpresa me vi na sala da Lua. Seminua, a Menina pintava um quadro - uma paisagem - e tinha nas costas o índice do livro. Na sala da Lua tinha um sofá velho e rasgado, uma estante onde estava a tela que a Menina pintava com cores fortes e um pincel grosso demais, tinham muitas quinquilharias espalhadas e trapos coloridos, e tinha uma janela. Claro, as janelas aqui funcionam como as portas - a paisagem muda de acordo com quem olha. Então, não sei o que a Menina via, não sei se ela pintava a paisagem que via da janela. Eu sei o que eu vi, e eu vi Fernanda. Estranho Fernanda aparecer por aqui, mas era ela e ela estava triste. Nos olhos deFernanda eu vi a sala onde eu e a Menina na Lua estávamos, nos olhos tristes de Fernanda eu via Menina. Pensei em falar com Fernanda, em explicar que era só o acaso que me levou até ali. O mesmo acaso que a fez nos ver pela janela. Pensei em explicar tudo. Mas era tarde e Fernanda já tinha saído por uma porta. Na sala da Lua, a Menina continuava pintando. Dessa vez escolhi a porta de trás, a que fica do lado do sofá, e saí.

quarta-feira, agosto 10, 2005

Importância

Existe uma mulher que controla o trânsito. Controla os carros e as pessoas. Os carros param as pessoas andam; as pessoas param os carros andam; os carros param as pessoas andam. Existe uma mulher que controla o trânsito. Verde amarelo vermelho verde amarelo. Ela bate palmas e os carros andam as pessoas andam as luzes mudam.

Existe uma mulher que controla o trânsito. Existe uma mulher que controla o trânsito e ela não dorme. Existe uma mulher que controla o trânsito e ela não pode dormir. Sem ela os carros não andam as pessoas não param as luzes não mudam. Existe uma mulher que controla o trânsito e ela não pode dormir. Ela não pode dormir porque ela é a mulher que controla o trânsito.