quinta-feira, janeiro 25, 2007

O barco

Quando eu acordei descobri que minha cama era um barco. Abri os olhos e meu quarto estava lá de novo. Sentei na cama. O barco jogou violentamente. Parecia uma tempestade, pensei, mas não conseguia ver nada; só o meu quarto. Fechei os olhos intui o mar revoltoso, meu barco pequeno e frágil perdido entre ondas gigantes. Quase senti o cheiro do mar. Abri os olhos e vi meu quarto calmo e constante. Incrédula, estiquei a perna e toquei o chão com a ponta do pé: só o carpete. Fechei os olhos, uma onda espatifou-se contra o barco e quase perdi o equilíbrio. Abri. Sentada na beira da cama, agora com as duas pernas para fora, meu corpo pendia para frente enquanto eu fitava o piso. Toquei os dois pés no chão: carpete. Com cuidado me pus de pé. Me apoiando nos móveis, andei em direção à porta. Se eu saísse do quarto estaria segura, pensei, era dentro que ficava o oceano. Abri a porta e saí. Salva! Ri aliviada e no riso fechei os olhos. Antes de o oceano me engolir eu vi meu barquinho flutuando solitário.