terça-feira, maio 09, 2006

Andarilho: conchinhas

Na praia, os pés enterrados na areia. Na beira do mar, a água fria do amanhecer de inverno molhando suas calças. Longe do alcance das ondas, sentou na areia. Uma concha, perfeita, branca com manchas marrons. "Uma conchinha." Lembrou da mãe. "Você vê essa conchinha?" ela dizia. Ele fazia que sim e ela emendava. "Ah! mas você pensa que isso é uma conchinha. Mas isso não é uma conchinha!" "Não?" ele perguntava. "Não, é outra coisa" ela respondia piscando o olho. E isso ele nunca entendeu: se não era uma concha, por que ela dizia que era? Ela dizia, dizia "olha essa conchinha".

O sol já ia alto. "Deve ser umas nove horas." Sentiu no estômago um buraco e pensou que já era hora de levantar. Pegou a concha e guardou no bolso furado. Saiu da praia e ganhou as ruas. A cidade a esta hora já há muito acordara e ele preferia assim. Na cidade cheia ninguém olhava pra ele. Mais tarde, se a concha ainda estiver no bolso, ele a devolverá ao mar.