quarta-feira, março 30, 2005

A e P

Um sujeito tem um revólver. O revólver não está à mostra, está bem guardado na mochila. O sujeito - vamos chamá-lo de sujeito P - está calmamente comendo seu pastel com guaraná, com seu revólver bem guardado na mochila. Então chega o outro sujeito - digamos o sujeito A - e diz para P:
- Ei, não me mata não.
- Ahn?
- Não me mata não, vai...
- Quê? - P pára de comer o pastel e pousa o copo de refresco no balcão.
- Eu pedi pra você não me matar.
- Matar?
- É, por favor. Não atira em mim não.
O sujeito P continua sem entender. A insiste:
- Hein? Promete que não vai atirar? Hein? Não atira em mim não. Por favor, não me mata não.
P suspira e olha o pastel:
- Por que eu ia atirar? Eu nem te conheço, rapaz!
A ignora e continua:
- Promete? Não atira não. Não me mata não, tá? Hein? Por favor. Ai... você vai atirar. Eu tô sentindo que vai. Assim, se você atirar, atira fraquinho. Atira assim, no pé. E perto de algum hospital. Hein? Por favor. Será que dói muito? Deve doer. Ai... Por favor, não atira não, não me mata não.
A parece desesperado. P comeca a perder a paciência:
- Escuta, eu queria terminar o pastel...
A ignora e continua:
- Você vai atirar, né? Ih, você tá nervoso, né? Você vai atirar, voceê vai me matar. Vai, não vai? Vai sim. Eu sei que vai. Ai meu Deus, eu vou morrer! - para os céus - Por que, meu Deus? Por quê? Ele vai atirar! - voltando para P - Voce vai atirar? Vai mesmo? Não faz isso não. Pelo amor de Deus. Faz não. Por fav.
P puxa o revólver e atira em A.

quinta-feira, março 24, 2005

Sapiências

Eu sei um monte de coisas. Um montão mesmo. Eu sei o nome da melhor amiga da Mary Richards e do colega e do patrão também. Sei até quem é Sue Ann Nivens e também Barnabas. Sei que a melhor - e talvez única - maneira de prender uma fada é com aço frio. Sei que cerambicídeo é um tipo de besouro. Sei o nome antigo de Lothlorien. Sei the effect of gamma rays on man-on-the-moon marigolds. Sei enrolar a língua e sei ficar numa perna só. Sei o nome da amiga imaginária da Raquel e dos 7 Perpétuos. Sei o que significa hebdomadário. I wish i were an oscar meyer wienner. Sei fazer cachorro-quente e sei desenhar gato. Eu lembro do pula Blisto no mundo da imaginação e eu sei que vi uma mágica de verdade uma vez. Sei o nome de um gnomo: Rumplestilskin. Sei que Cespenar é um personagem de um jogo que eu nunca vi. Sei quem matou Odete Roitmann. Sei onde ficam as flautinhas no primeiro mundo e sei um jogo dos pontinhos que nunca dá empate, a menos que os jogadores sejam atropelados por um caminhão. Ah! Eu sei como fazer uma capinha colorida bem bonitinha pra cobrir a caneta bic, usando cola e pilô e uma régua.

Sei que tem gente que nem lembra de mim (será?), gente em quem eu penso de vez em quando. Gente de quem eu tenho saudade. Gente que deve ter saudade de mim. Como quando o Reinaldo convenceu as meninas de que cola era bom para a pele e elas lambuzaram a mão de cola. E uma casinha de gnomos feita de caixa de fósforo. E uma perna de girafa que foi engolida. E a chapeuzinho-vermelho sendo esmagada pelo ferro de passar roupa no alto da montanha na época da inundação. Da breve existência da família Quiquica e da criação da tia Massa. Não é engraçado? Tem esses momentos que para a gente foram super mágicos e você pensa "puxa, que legal!" e aí você olha pro lado e você acha que a pessoa que está lá percebeu também o quanto de mágica tinha ali, o quanto aquele instante foi único. E o tempo pasa e... melhor nem conferir. No final o momento era só seu. E a pessoa nem lembra mais. Será que daqui a 5 anos ou 10 ou 15 anos só eu vou lembrar das bicicletas na chuva? Do Enquete é Par e seu grande sucesso, Existe Chegue? Do mãe do Freud? Do gls das verduras e da rainha Evaca Perón? Do significado de cavalo em terras italianas? E eu? O quanto eu já esqueci? O quanto eu perdi?

sábado, março 05, 2005

Estórias e personagens

Eu costumava achar que eu era a única pessoa que inventava estórias pra si mesma. Aí um dia eu tomei coragem - isso na adolescência - e comentei isso com meu psicólogo. Eu achava que era quase um sinal de loucura. Aí ele falou "ué, e como você acha que os escritores fazem?" Fez sentido. Eu vivo inventando estórias na minha cabeça. Tem vezes que eu faço sequências ótimas mesmo. Diálogos que eu penso "porra, isso tá foda!" Acho que eu não escrevo é só porque eu faço elas pra mim, essas estórias são pra mim. Quer dizer, não é que ninguém vá se interessar, é só que na maioria das vezes não vale o esforço.

E mesmo, o meu forte são os personagens. Ou melhor, é o que eu mais gosto de fazer. Eu tenho, deixa eu contar, sei lá, um monte. Mas tem um que é antigo pra caralho. Nem sei quando ele surgiu. Pelo menos uns... o quê? 6 anos. Se contar que ele veio derivado de outro, põe aí uns 10. E eu sei direitinho o rosto dele. Quando eu era mais nova eu ficava pensando "e se eu esbarrasse com ele na rua. E aí?" E aí? E aí nada, ué. E claro, sempre tem as versões alternativas dos personagens, o que sempre é engraçado. É como você olhar prum amigo teu e pensar. "Hmmm... e se ele fosse cozinheiro, gay e pai solteiro?" Ou "e se ela fosse uma nadadora olímpica?"

Pra que eu comecei esse assunto? Sei lá. Deve ser porque eu tava lendo uns fanfics ainda agora. De X principalmente. Isso é coisa que até gosto de ler, mas não vejo nenhuma graça em fazer. O legal é inventar os personagens, é isso, não as estórias em si. Talvez por isso eu encha o saco e nunca consiga chegar ao fim de (escrever) a estória.

ps.: Como se escreve trema em inglês?