sábado, dezembro 03, 2005

A outra, a mesma

Lá fora estava sol, mas ela saiu mesmo assim. Fazia sol e estava quente e ela não gostava da claridade e do calor. Nunca gostou de sol e isso, ela achava, tinha sido o motivo. Porque ele gostava de sol, gostava de luz e calor. Tinha sido por isso. Bom, pelo menos esse era um dos motivos, disso ela tinha certeza. Um dos principais motivos. Por isso, hoje, com o sol de tarde de verão no Rio de Janeiro, ela pôs os óculos escuros, o chapéu, e saiu da escuridão fresca do apartamento para o firno insuportável das ruas.
Andava rápido, decidida, a passos largos e sem olhar para os lados. Então se deu conta de que não tinha nenhum lugar para ir nem nada para fazer. Foi diminuindo o passo até parar. "O que as pessoas fazem na rua a essa hora?" pensou. Olhou em volta. Estava no seu bairro mas não reconheceu ninguém.
Hesitou, parada no meio da calçada, percebeu as pessoas a olharem curiosas. "Ninguém fica parado no meio da calçada" pensou. Escolheu uma direção e pôs-se a andar. "Quando em Roma, faça como os romanos." Resolveu que esse seria seu novo lema e com isso em mente, observava as pessoas. Essas pessoas que passeam no sol nas tardes de sábado, com pouca roupa e de chinelo. Alguns levavam cachorros ou andavam de bicicleta ou patins. Uns tomavam sorvete e muitos pareciam vir da praia.
Aos poucos acabou tomando uma nova decisão. Decidiu que ela seria uma daquelas pessoas que gostam de passear no sol em tardes de verão. Tirou os óculos escuros e tomou um picolé. Num camelô comprou uma canga. "Amanhã deve fazer sol de novo" pensou, "amanhã eu vou à praia."
Pensou que o dia estava mesmo lindo e decidiu só voltar para casa quando escurecesse. Mais tarde, ao telefone, estranhou o espanto de uma amiga que dizia:
-- Mas você não gosta de praia!
-- Não, eu sempre gostei.
-- É?
-- Eu sempre gostei.

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