quinta-feira, dezembro 01, 2005

Cidade

Quando eu ando de ônibus, e eu ando bastante de ônibus, é bom, o coletivo é bom, quando eu ando de ônibus na janela eu olho os topos das árvores com as folhinhas, ou os topos dos prédios e as fachadas das casas, ou as caras das pessoas e as cores das roupas.
Eu presto atenção no desenhos das folhas, nos prédios que têm plantas no terraço, nas janelas e portas das casas, nas velhinhas e nos mendigos. Às vezes, mas só às vezes, eu olho as nuvens.
Eu conheço a cidade por onde eu passo de ônibus em tantos detalhes e eu sei que é a mesma cidade, mas a que você vê é outra.

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A cidade dos mendigos, da gente que mora nas ruas, essa é outra. E eu não posso ver essa, assim como eles não compreendem aquela. Porque ver é compreender. O selvagem não vê a bíblia do missionário e para o missionário, todos os colares são iguais.
Pensei que eles, nas ruas, eles estão dentro da cidade, eles vêem a cidade de de dentro; nós estamos fora e a vemos de fora. (Percebi depois que isso é uma falácia: a cidade é tudo.)
Pensei que eles também me vêem.
Pensei naquela música. "I'll never know you like you know yourself; you'll never know me like I know myself."
Peecebi o que está nas entrelinhas: eu nunca vou me conhecer como você me conhece; você nunca vai se conhecer como eu te conheço.

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