O Heitor anda pela cozinha pensando em sonhos. Eu fico na cama e pensava em verdade. Pensava em questões inúteis, como sempre. Pensava no quanto eu minto pra mim e será que sou só eu? Ou será que - como me disseram uma vez - eu percebo minhas mentiras enquanto a maioria nem pensa no assunto? Pensava na minha antiga obsessão com a verdade, em não mentir pros outros. Acho que quando você mente e quer parar de mentir, você deve começar por algum lugar. Você deve começar por onde é mais fácil. Você deve começar pelos outros.
Eu pensava no que eu quero. Em por que eu quero as coisas que quero. Não, não em por que eu quero. Em se sou realmente eu que quero, se não é uma invenção, se eu não quero porque meus amigos querem, porque é legal, mais fácil, pra evitar pensar demais, porque pensar cansa e por vezes dói. Por mais de uma vez me achei em uma bifucação do caminho onde eu poderia inventar uma paixão ou seguir com o que seria verdade. Com o que eu chamo de verdade porque foi por onde eu segui. Se tivesse ido pelo outro caminho, não seria também verdade?
Se eu acho que tudo é escolha. E eu disse tudo, vida, morte, roupa, gosto, sexo, amigos, amor, carreira, tesão, tudo. Se eu acho que tudo é escolha então qual a diferença entre escolher e escolher que outros escolham por você? Algum é mais humano, mais verdadeiro, mais real? Eu ando tendo pesadelos, eu escolho ter pesadelos. Eu escolho ter medo das coisas que tenho medo. Também escolho deixar de ter.
Porque eu acho - eu escolho achar - que eu sou eu inteira. Não sou só a minha parte consciente, sou tudo. Não só a parte que pensa "eu quero ir ao cinema" mas também a parte que pula com barulhos abruptos. Porque a questão é, quando te cortam e separam seu dedo. Qual das partes é você? E quando te cortam ao meio? E quando separam a parte que sonha da parte que fala e decide tomar mais uma cerveja? Qual é você? Quem é você?
Em caso afirmativo
Há 7 anos
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