terça-feira, julho 15, 2008

Umas saudades

eu ando com saudade
de tanta coisa boba
de tanta coisa-pouca
que nem dá pra explicar

é uma saudade estranha
de um tempo mais difícil
do sopé da montanha
do início do chão

das palavras insanas
das risadas sacanas
de ficar em silêncio
e andar por aí

é saudade da gente
e do monte de gente
que já foi "a gente"
um dia pra mim

segunda-feira, julho 14, 2008

A carta

-- Fernando! Ô Fernando! Espera, cara!
Fernando vai na frente, andando rápido e pisando duro, cortando a praia em direção ao mar. Guilherme agora corria, tropeçando na areia.
-- Porra, Fernando! Calma! Meu pé tá machucado, esqueceu?
Fenando parou, se virando para o amigo:
-- Ué, e tá vindo atrás de mim por quê então?
-- Que que foi cara?
-- Que que foi o quê?
-- Por que você saiu correndo desse jeito?
-- Eu não saí correndo, só não tava a fim de ficar lá. Você não precisa vir comigo, ué. Fica lá. Volta.
-- Que você não gosta da Luiza, é isso?
-- Que que tem a ver a Luiza?
-- Ela tava brincando, cara. Ela só falou aquilo da carta pra te irritar.
-- Eu não tô irritado – disse Fernando, sentando na areia. Guilherme sentou-se ao seu lado, em silêncio.
-- Eu não tô irritado – repetiu Fernando –, é ridículo esse negócio de carta.
Guilherme não respondeu. Pensativo, de cabeça baixa, traçava na areia pequenos desenhos com os dedos.
-- Se duvidar foi ela mesma quem escreveu - Fernando insistiu. - Ou então foi a Daniela.
-- Não foi a Daniela, cara - Guilherme respondeu.
-- E foi quem então?
-- Sei lá!
-- Pode ter sido a Paula também.
Guilherme suspira. Fernando enterrou as mãos na areia.
-- Você queria que fosse pra você a carta? - Guilherme perguntou.
-- Quê? Claro que não! Que coisa idiota.
-- Sei lá.
Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos.
-- Quem você preferia que tivesse escrito? - Fernando perguntou.
-- Caraca, para com esse assunto! - Guilherme se irritou.
-- Sério, você preferia a Luiza, a Daniela ou...
-- Daniela é minha amiga desde bebê, cara! Não foi ela!
-- ...ou a Paula?
-- Caraca, que saco...
-- Ou, sei lá, pode ter sido a Mariana, ou...
-- Você.
-- Quê? - Fernando olhou o outro, assustado. Guilherme não respondeu, fitava a areia, de testa franzida. Fernando baixou os olhos, confuso. Guilherme mirou o amigo com o rabo do olho e, num ímpeto, beixou-lhe a bochecha. Fernando riu, sem graça.
-- Não fui eu, você conhece minha letra – disse.
-- Eu sei que não foi você – Guilherme respondeu, sério.
Depois de alguns segundos de silêncio constrangido, Fernando chamou:
-- Tá a fim de ir lá em casa jogar?
-- Aham.